5.9.11

ROCCO, VIDAL + ARQUITETOS















LA MAISON _ CHAMPS ELYSÉES

Número 8, rue Jean Goujon, Paris. Por trás das portas de vidro de uma townhouse de estilo Haussmann no 8º arrondissement, surge um hotel que desafia os códigos do décor e traduz o luxo democrático, a mistura de tradição e surrealismo: La Maison Champs-Elysées. O prédio foi erguido a mando da duquesa de Rivoli e princesa de Essling, em 1866. Depois, veio a aquisição, em 1919, pela Maison des Centraux para ser ponto de encontro dos ex-alunos da École Centrale des Arts et Manufactures (a mais prestigiosa escola de engenharia da França), e uma ampliação para um hotel do grupo Accor em 1989. Agora, o “novo” espaço tem parte de seus interiores reinventada pela Maison Martin Margiela.

Conhecida por sua moda minimalista e suas peças ousadas e desconstruídas, a grife trocou os croquis pelos desenhos de ambientes pela terceira vez. Ela já remodelou o apartamento do arquiteto Jacques Carlu no Palais de Chaillot e projetou uma suíte no hotel-spa Les Sources de Caudalie, em Bordeaux. Dos 57 quartos e suítes do La Maison Champs-Elysées, 17 são haute-couture, assinados pela Maison Martin Margiela, assim como o lobby, o cigar room, o bar e o restaurante aberto para um terraço de madeira e um jardim particular – tudo no prédio histórico, datado da época de Napoleão III. O resultado é um universo poético que resgata a herança da instituição, dos tempos de Eiffel, Blériot, Peugeot, Michelin, Panhard e Boris Vian, mas confunde estilos e eras, com humor, ironia e ilusão. “Criamos um mundo dramático, em que realidade e fantasia parecem se fundir. O décor é como uma sucessão de cenários teatrais, em que referências são misturadas para criar uma atmosfera incomum, com o encontro harmonioso entre passado e presente”, declarou a Maison Martin Margiela.

Imagine um hall de entrada com piso de limestone e cabochons de mármore preto distribuídos aleatoriamente. De repente, veem-se superfícies espelhadas que refletem a imponente escadaria imperial guardada por águias douradas e o lounge branco, onde trilhos de spots iluminam os traços de velhas molduras pintadas, na verdade, sobre novas paredes, com móveis revestidos de puro algodão e mesinhas com espelho.











No restaurante, mesas e poltronas sobre pedestais de metal parecem flutuar, e há cadeiras Luís XV e XVI. O Antin Hall, corredor que dá acesso ao jardim e aos andares superiores, tem as paredes e o teto cobertos de placas de alumínio aplicadas à mão, piso de grandes azulejos de cerâmica prateados e iluminação de LEDs que vem de um lustre no formato de um diamante. Já no cigar room, madeira e couro compõem um visual que remete a charutos.
Nas suítes imaginadas pela maison, com confortos como iMacs, lençóis de linho, minibar e Wi-Fi como cortesia, as molduras do século 19 são inacabadas, há luminárias de aço escovado e muitos espaços com trompe-l’oeil que reproduzem as molduras originais dos emblemáticos salões para recepções Empire. O paralelo de tudo com a moda de Margiela? “Você vê as capas brancas de algodão, os trompe-l’oeil, a subversão de objetos e materiais, a mistura de estilos e eras, o humor. Roupas, objetos e design de interiores – todos comunicam os mesmos valores estéticos: um acabamento ‘não acabado’ e um senso de detalhe, surrealismo…”, segundo a Maison Martin Margiela. A experiência fora do comum certamente provoca a vontade de voltar.